Resenha - Quando Tudo Volta

Resenha feita pela Tay!
Título: Quando Tudo Volta
Título Original: Where Things Come Back

Livro Único.
Autor: John Corey Whaley
Editora: Novo Conceito
Páginas: 224
Ano: 2014
Saiba mais: Skoob
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Sinopse
Uma morte por overdose. Um fanático estudioso da Bíblia. Um pássaro lendário. Pesadelos com zumbis. Coisas tão diferentes podem habitar a vida de uma única pessoa? Cullen Witter leva uma vida sem graça. Trabalha em uma lanchonete, tenta compreender as garotas e não é lá muito sociável. Seu irmão, Gabriel, de 15 anos, costuma ser o centro das atenções por onde passa. Mas Cullen não tem ciúmes dele. Na verdade, ele é o seu maior admirador. O desaparecimento (ou fuga?) de Gabriel fica em segundo plano diante da nova mania da cidade: o pica-pau Lázaro, que todos pensavam estar extinto e que resolveu, aparentemente, ressuscitar por aquelas bandas. Em meio a uma cidade eufórica por causa de um pássaro que talvez nem exista de verdade, Cullen sofre com a falta do irmão e deseja, mais que tudo, que os seus sonhos se tornem realidade. E bem rápido.

A TramaO livro começa com Cullen Witter reconhecendo o cadáver de seu primo. A partir desse dia, sua família passaria a viver em um drama sem fim, num primeiro momento por causa de sua tia, Júlia, que passa a sofrer de mais com a perda do filho. De repente, a notícia de que um raro pica-pau Lázaro foi visto na cidadezinha de Lily, Arkansas, abala toda a estrutura da cidade, fazendo com que tudo gire em torno daquele pica-pau (fizeram até o Lázaro Burger, pra vocês terem uma ideia). Depois de um encontro, Cullen percebe, quando chega em casa, que seu irmão mais novo, Gabriel, não está lá. E é então que começam as buscas por Gabriel e todo o sofrimento da família Witter. Ao passar um certo tempo, Cullen começa a ficar irado por todos os noticiários e jornais estarem cheios de notícias sobre o pássaro e nenhuma sobre seu irmão, o que o faz odiar aquele pica-pau com todas as suas forças, mesmo tendo conversas imaginárias com ele de vez enquanto. Quando Tudo Volta tem uma história interessante, mas são um pouco chatas algumas partes de divagações do protagonista. Acompanhamos seu dia a dia e como ele começou a levar a vida depois do desaparecimento do seu irmão, e em alguns capítulos alternados é nos contado a história de outros personagens que, num primeiro momento, não têm nada a ver com a história central. Apesar de essas histórias paralelas terem ligação depois, algumas passagens, a meu ver, foram desnecessárias (mesmo que quando são citadas algumas partes do Livro de Enoque sejam coisas interessantes, algumas coisas desses capítulos poderiam muito bem ser retiradas na edição). 

O Protagonista: Cullen é apenas um garoto normal de 17 anos que quer encontrar o irmão desaparecido. Ele tem um caderninho em que gosta de anotar títulos para livros que ele possa vir a escrever no futuro, e tem como hobby imaginar as pessoas virando zumbis (até quer escrever um livro sobre eles). Tinha uma ótima relação com o irmão, e quando ele desapareceu, foi como se uma parte de seu mundo tivesse sumido. Eu gostei do personagem, apesar de algumas vezes ele agir de forma idiota. E não tem como não se sentir frustrado com ele por todas as pessoas estarem mais interessadas em encontrarem o tal pica-pau do que seu irmão, apesar de todos olharem com dó para ele quando passa na rua e ele odiar isso.

Personagens SecundáriosGabriel é aquele tipo de menino de quem todos querem ser amigo, simplesmente por ele ser bom com todo mundo. Fiquei muito curiosa até o finalzinho do livro para saber o que aconteceu com ele, e quando eu soube, fiquei com muita raiva. Lucas Cader, melhor amigo de Cullen, é um cara popular e que sempre protegeu o amigo dos valentões do colégio (e Cullen não faz a mínima ideia de por que Lucas o escolheu como melhor amigo). Eu adorei ver como ele era um amigo verdadeiro e como tomou as dores do sumiço de Gabriel, como se ele fosse seu próprio irmão, imaginando um sequestrador ou assassino em todo mundo. Isso se tornou até um pouco obsessivo depois de um tempo, mas dava para ver que ele só queria encontrar o garoto. 

Capa, Diagramação e EscritaEu gosto de como o título, o nome do autor e aquela frase estão dentro do pássaro, mas, num todo, eu não gosto muito dessa capa (aliás, é quase impossível olhar para ela e não lembrar de ACEDE, por causa das cores). A diagramação está bem fofa, com uma nuvem rabiscada escrito o número de cada capítulo e uma fonte diferente para os títulos dos capítulos, além dos pássaros pequenininhos enfeitando cada página. O jeito que o autor escreveu se parece muito com a escrita de livros como Onde a Lua Não Está, O Universo Contra Alex Woods e outros assim, apesar de ter suas diferenças, claro. Achei que ele divagou bastante em alguns momentos e gastou mais páginas do que deveria em algumas coisas, mas isso não torna sua escrita ruim, e eu com certeza leria mais livros dele.

Concluindo: Não vou dizer que amei esse livro de paixão, mas eu gostei. Apesar dos personagens não terem um desenvolvimento grande ao longo da trama, eu gostei de acompanhá-los, mesmo quando me irritavam um pouco. Alguns capítulos, quando está sendo falado de outros personagens, se tornaram um pouco confusos por algum momento, porque o autor não explica que está contando de algo do passado, então quando aquilo leva a algo que aconteceu lá no início do livro, eu tive que parar um tempo e assimilar que o que ele contava antes era o passado. O final foi meio frustrante e me deixou com um pouco de raiva e uma sensação enorme de injustiça. Por mim, o autor faria um outro livro, pelo menos um conto, para os personagens resolverem aquele mistério e deixar tudo em pratos limpos, porque eu simplesmente não posso aceitar que tudo vai ficar daquele jeito! É um bom livro e ele vai conseguir te fazer pensar em algumas coisas, embora não seja uma reflexão muito profunda (mas também vai depender de cada um).

Quotes:
Como a maioria dos adolescentes, eu, Cullen Witter, estava apaixonado por uma bela garota que tinha um namorado grande e valentão que poderia me bater assim que me visse. Ele se chamava Russell Quitman, e eu não ligava muito para o irmão dele nem para os pais. É que às vezes pego birra das pessoas por associá-las a outras. O nome da menina era Ada Taylor, e ela provavelmente poderia me bater também. (Se você ainda não percebeu, quase todo mundo poderia me dar uma surra.) (...)


(...) Acho que o mais interessante a respeito de Gabriel é que ele não parecia se preocupar com o que as pessoas pensavam dele. Atravessava o corredor da escola com a cabeça baixa não porque queria evitar ser visto ou dissuadir predadores sociais, ou coisa do tipo, mas porque não via motivo para erguê-la. (...)


Quando você está no banco do passageiro do carro de seu melhor amigo enquanto uma caipira exageradamente animada está no banco de trás reclamando por ter sido humilhada por uma líder de torcida na hora do almoço, sua mente começa a divagar e a pensar em zumbis. O problema dos zumbis é que eles têm que ser mortos. Você tem que fazer isso. Os seres humanos são obrigados a matar zumbis, assim como os zumbis têm a obrigação de caçar os seres humanos e comê-los. (...)


Então, o fato de Gabriel acreditar que nossa cidade precisava que aquele passarinho existisse fazia sentido para mim, independentemente de gostar ou não. Eles precisavam de algo em que ter esperança. Na minha cabeça de 17 anos, nada mudaria se aquele maldito pássaro aparecesse, porque eu ainda tinha uma pequena chance de ter um futuro. Ainda tinha esperança na possibilidade de começar um vida em outro lugar. Era mais fácil para mim detestar todo mundo na cidade do que me detestar por ter medo de ser como eles.


(...) Ada Taylor se ajoelhou ao meu lado no chão enquanto eu chorava pela primeira vez, ao pensar que a pessoa que eu mais amava no mundo provavelmente estava morta.


(...) Uma vez, meu irmão me disse que Deus era como o melhor músico do mundo, porque ele juntou todos os sons da natureza e deu dedos a pessoas como Jimi Hendrix e o cérebro a John Lennon.


- Vai trabalhar hoje?
- Pedi demissão.
- Você o quê? - Lucas sentou-se em minha cama.
- Telefonei para o Ted hoje e disse que queria parar.
(...)
- Tudo bem, mas por que você parou? - perguntou ele.
- Porque cada pessoa que entra na loja não é meu irmão, e eu não suporto mais olhar para a frente sempre que a porta faz ding e me decepcionar.


- Cullen, as pessoas não podem desistir umas das outras ainda. Todos merecemos uma segunda chance, sabe? Podemos começar de novo, como Noé depois do dilúvio. Por pior que um homem seja, ele sempre ganha uma segunda chance, de um jeito ou de outro.

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