Resenha - Enfim, Capivaras

Título: Enfim, Capivaras
Autor: Luisa Geisler
Editora: Seguinte
Páginas: 173
Ano: 2019
Saiba mais: Skoob
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Sinopse: 
A cidade no interior de Minas Gerais para onde Vanessa se mudou é o tipo de lugar onde anunciam os horários do cinema e os obituários com o mesmo carro de som. Nada de muito interessante acontece por lá, a não ser para Binho, que, segundo ele mesmo, tem várias namoradas e conhece um monte de cantores sertanejos famosos. A verdade é que Binho é um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Cansados das histórias cada vez mais mirabolantes do garoto, Vanessa se junta aos amigos ― Léo, Nick e Zé Luís ― para desmascará-lo. E eles estão decididos a ir até as últimas consequências. Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara ― ou muito mais do que isso.

A Trama Em uma cidade do interior de Minas Gerais, uma noite regida por novas experiências e um pouco de inconsequência vai seguir a história de cinco amigos - que não sabem muito bem por que andam juntos ou se são mesmo amigos - decididos a desmascarar um colega mentiroso que jura ter uma capivara de estimação. O cenário principal é o interior do país - coisa que não vemos muito no gênero jovem adulto -, e trabalha bastante os costumes locais e diferenças regionais. É muito interessante como a autora consegue ilustrar em um livro brasilidades de todos os quatro cantos desse país e juntar essa miscelânea que o Brasil é dentro de um livro jovem adulto.

Os Personagens: Um dos pontos fortes do livro é a caracterização dos personagens. Todos os integrantes agem exatamente como adolescentes devem ser: normais - um pouco perdidos e deslocados, desconfortáveis em suas próprias peles e meio inconsequentes. Acho que a autora poderia ter explorado um pouco mais as motivações que permeiam certos sentimentos, mas é apenas um detalhe na grande narrativa.
Para quem não sabe, esse livro foi censurado em uma feira por "linguajar inadequado" para jovens e eu preciso discordar com essa decisão. Sim, eles falam palavrões no livro, e agem de forma impulsiva e até insensível por vezes uns com os outros, mas a narrativa é um retrato nu e cru de como são as interações reais entre adolescentes e acho que a autora fez um ótimo trabalho retratando isso. Além disso, é justamente o uso dessa linguagem que faz com que o livro converse diretamente com seu público alvo e gere identificação e um lugar seguro de apoio para jovens que se vêem refletidos na narrativa.

Capa, Diagramação e EscritaA escrita da autora é envolvente e gera uma leitura rápida. O livro é curto e com uma história tão peculiar e, ainda assim, tão reminiscente da minha própria adolescência, que foi difícil não me envolver.
Nos começos de cada capítulo, temos listas feitas pelos próprios personagens. Essa é uma parte bastante interessante também pois são nelas que cada personagem mostra suas reais motivações, coisa que eles próprios não admitem abertamente no meio da narrativa. É um ótimo artifício que deixou a leitura ainda mais divertida e dinâmica.
Além disso, achei um charme só essas capivaras com gravatinhas na capa, rs.

Concluindo: Eu gostaria de ver um pouco mais de desenvolvimento em alguns detalhes do livro mas, de uma forma geral, o livro é ótimo - principalmente para seu público alvo. Ele mostra sem pudor ou papas na língua o que é ser adolescente, aquele período em que você não sabe muito bem quem é, quem seus amigos são ou por que você está fazendo o que está fazendo. Além disso, ele expõe o que é ser adolescente no Brasil, coisa que acho muito importante no cenário atual. Nós tendemos a ler muitos livros internacionais e ficamos com uma ideia inatingível e romantizada do que é ser adolescente baseado em filmes hollywoodianos e narrativas jovem adultas. Enfim, Capivaras nos mostra um lado local e mais tangível, criando uma identificação com os leitores que, finalmente, encontram um ponto de referência válido e que podem associar com suas próprias experiências.